sábado, 18 de fevereiro de 2012

ENTENDENDO O ADOLESCENTE!!

Já atuei com adolescentes durante 20 anos e aprendi muitas coisas com eles. Os adultos têm uma forte tendência de chamá-los de aborrescentes e me pergunto: aqueles que os vêem assim não foram aborrescentes porque tiveram uma criação num período onde os pais sequer dialogavam com os filhos.

Vamos recordar um pouquinho:chegava visita em casa e as crianças e os adolescentes na maioria das vezes eram convidados a se retirar do ambiente, como se não pudessem ouvir o que ali iria se tratar. Olha só, que coisa mais estranha! Não tem como evitar de pensar: não querem nossa presença, vão falar de nós, só pode! E assim foi por muitos anos. Os ditos adolescentes do período da ditadura não tinham a chance de participar, dar sua opinião, ser ouvido. Tinham muito medo, o que é diferente de respeito. Hoje temos uma geração muito diferente.

O que os pais não podem esquecer é que o seu papel continua sendo o de serem pais e não os amigos dos filhos, esse é o caminho onde se apresenta um âmbito delicado e onde muitas familias se perdem. Os filhos precisam receber o limite, assim como aprender a ouvir um "não", pois isso não representa deixar de amá-los, pelo contrário. Voltando no tempo um pouquinho, temos consciência de que uma grande maioria dos pais passou muito trabalho para chegar onde chegaram. Muitos não puderam estudar em escola particular e seu sonho hoje é ver o filho recebendo uma boa educação.

Deixando claro novamente que a educação deve vir de casa. A escola vai lhes orientar e lhes conduzir nas demais aprendizagens, envolvendo aspectos cognitivos, relacionais, socioafetivos, entre outros. Vejo adolescentes que tratam seus pais como se fossem seus empregados,tamanha a falta de respeito verbalizada e ainda assim considero um absurdo, pois mesmo o empregado precisa e deve ser tratado com muito respeito. Onde estão os valores e os princípios das famílias modernas?

Pais, está mais do que na hora de conversarem com seus filhos, eles precisam e querem isso. Os pais não podem ser tão distantes. Sei perfeitamente a correria do mundo atual, mas isso não impede que a mãe ou o pai sentem com o filho, lhe façam um carinho, passem a mão na sua cabeça, um abraço no ombro.Pessoal, isso é ser gente! Dizer para o filho que o amamos é imprescindível. Aí vão me dizer:" Tu estás louca? Eles não querem que a gente chegue perto nem no colégio.Querem distância!" -Na escola querem se autoafirmar, mas em casa eles têm essa necessidade. Os pais também querem continuar se sentindo amados.

O adolescente sabe reconhecer quando ele está sendo respeitado, ouvido, onde existe uma relação de confiança e de amor de verdade. Eles nos procuram, desabafam, tem os momentos de conflitos, evidente, pois estão numa passagem difícil na vida, perdendo um corpo infantil para que o corpo adulto tome conta e a mente nem sempre acompanha esse processo. Ficam com estaturas gigantes e pensando e agindo como se fossem crianças. E é nesse ponto que os familiares se perdem e exigem a postura madura quando muitas vezes eles ainda não têm.

Sou contra que sejam presenteados a todo instante, eles precisam saber que tem que fazer por merecer, senão a vida fica sem objetivos e o risco do encontro com as drogas torna-se um grande atrativo, portanto, atenção! Dizer o "não" para a festinha, ou para a compra de sei lá o que, é necessário. Podem reclamar no momento, passada a fúria, senta-se com o adolescente e se pontua o que está pensando. Ouvi-lo é o grande ganho.

Muitos dos adultos que hoje estão na faixa dos 40 aos 55 anos não tiveram chance de se manifestar, de opinar. Isto não quer dizer que vamos agir com os filhos da mesma forma que agiram conosco. Cada geração terá suas características, suas inovações tecnológicas, mas todas terão a relação interpessoal e intrapessoal sempre. Por isso ainda é tempo de resgatar a relação tão bonita que se estabelece entre pais e filhos. Filhos que respeitam os pais e vice versa são o maior presente para a humanidade. Saberão respeitar a todos que os rodeiam.E se posicionar também, porém sem estupidez.
                                                       Vera Magnaguagno-Or.Educacional e Psicopedagoga

IMPORTÂNCIA DA CONFIANÇA NA CRIANÇA AO CHEGAR NO PRIMEIRO ANO

Por diversos anos tive a oportunidade de acompanhar e orientar as famílias cujos filhos estavam ingressando no primeiro ano do ensino fundamental. É um momento que realmente marca, as emoções vêm à tona, os pais tiram milhões de fotos de cada movimento que a criança realiza na fila. Existem as famílias que choram, mil lembranças devem vir às suas memórias, enfim. Nota-se que, os que mais vibram e se emocionam de fato são os adultos, pois para as crianças não deixa de ser mais um momento onde eles reencontram amigos ou fazem novas amizades, desfilam suas mochilas novas, tênis com luzes  e o que vier pela frente eles enfrentam brincando. É aí que muitas vezes começa  o ladinho mais delicado da vivência. Por que usar o termo delicado? Porque os processos começam a se desenvolver de forma lúdica e nem sempre o brincar apresenta a clareza do que representa para todos os responsáveis.

Os momentos onde as crianças desenvolvem atividades envolvendo jogos, sejam livres ou orientados, lhes permitem estruturar o pensamento, o qual será posteriormente registrado, de acordo com as fases, no papel, entendendo as sílabas, palavras, frases e escrevendo os textos. Ou seja, brincar não é perda de tempo, é ganho e construção de significado para todo ser humano. É apropriar-se do que faz, é entender realmente como isso ou aquilo acontece, é sentir-se pertencente. Está bem, mas e a delicadeza, onde está? Para muitas pessoas adultas, que não tiveram a alegria de aprender dessa forma, onde desde o primeiro dia de aula já as fizeram escrever direto no caderno de linhas, pode parecer que a aula não está acontecendo. Atualmente as escolas preparam muito bem as crianças, as quais geralmente já saem da educação infantil alfabetizadas, mas isso não quer dizer que seja uma regra. Tem aquelas que chegam sem saber escrever nada ainda e é preciso incentivar a todos para que se ajudem e aprendam. Cada ser humano tem um tempo, um ritmo e vai estabelecer as conexões de compreensão levando muito em consideração tudo o que acontece no seu entorno. Isto é, a  criança vai se autorizar a aprender dependendo da forma como for tratada tanto na família, quanto com os amigos, parentes, escola, etc. Tudo o que os pequenos escutam das outras pessoas, vai fazendo com que elabore um perfil de si, como os outros o percebem. Quantas crianças muitas vezes não se autorizam a escrever e nem a desenhar nada, porque lá um dia foi chamada de "burra", "bocó", "tudo que tu faz está errado", "olha só que porcaria", "não dá para entender nada", entre outros. O primeiro ano do ensino fundamental é o período onde a criança vai começar a produzir mais e ter a chance de mostrar para quem quiser o que produziu. Nesse momento é fundamental que as suas produções, mesmo com trocas ortográficas, sejam valorizadas. O inicio do processo acontece naturalmente com trocas ortográficas, onde geralmente as crianças tendem a registrar mais as vogais, pois são os sons mais familiares. Uma palavra pode ser "escrita" contendo apenas vogais, e cabe ao professor lhe mostrar o que está escrevendo, solicitando sempre a participação da criança, assim haverá pouco a pouco a compreensão do processo completo. Evitar comparações: como é que o filho do meu amigo, que é mais novo, já está lendo? Aí é que devemos ter um cuidado redobrado, os pequenos escutam e começam a sentir-se menos valorizados e incapazes. Lembrar sempre que cada indivíduo carrega sua história de vida, mas possui uma elaboração que acontece de forma diferente.

O papel do adulto de ser o grande incentivador e mostrar que acredita no potencial do sujeito aprendiz é imprescindível. Nem todo caderno "bonito" é sinônimo de criança que aprendeu. Já vi cadernos lindos que eram apenas copiados do quadro sem significado e outros nem tão lindos cujas crianças sabiam escrever e criar maravilhas. Letras ou números bonitos não significam aprendizagem, o que importa é como a criança interpreta o que está sendo trabalhado com ela. Existem crianças que vão mostrar que entenderam mesmo por volta de agosto, setembro, outubro. Outras conseguem faze-lo nos meses de março, abril, maio. É relativo. O tempo é de cada um e o grau de ansiedade que muitas vezes o adulto passa para a criança, faz com que ela se desenvolva ou se trave nesse processo que não é simples, mas que para o leigo parece óbvio. Nossas crianças merecem esse olhar cuidador e serem felizes estando na escola, independente do ano que estão.