sábado, 18 de fevereiro de 2012

IMPORTÂNCIA DA CONFIANÇA NA CRIANÇA AO CHEGAR NO PRIMEIRO ANO

Por diversos anos tive a oportunidade de acompanhar e orientar as famílias cujos filhos estavam ingressando no primeiro ano do ensino fundamental. É um momento que realmente marca, as emoções vêm à tona, os pais tiram milhões de fotos de cada movimento que a criança realiza na fila. Existem as famílias que choram, mil lembranças devem vir às suas memórias, enfim. Nota-se que, os que mais vibram e se emocionam de fato são os adultos, pois para as crianças não deixa de ser mais um momento onde eles reencontram amigos ou fazem novas amizades, desfilam suas mochilas novas, tênis com luzes  e o que vier pela frente eles enfrentam brincando. É aí que muitas vezes começa  o ladinho mais delicado da vivência. Por que usar o termo delicado? Porque os processos começam a se desenvolver de forma lúdica e nem sempre o brincar apresenta a clareza do que representa para todos os responsáveis.

Os momentos onde as crianças desenvolvem atividades envolvendo jogos, sejam livres ou orientados, lhes permitem estruturar o pensamento, o qual será posteriormente registrado, de acordo com as fases, no papel, entendendo as sílabas, palavras, frases e escrevendo os textos. Ou seja, brincar não é perda de tempo, é ganho e construção de significado para todo ser humano. É apropriar-se do que faz, é entender realmente como isso ou aquilo acontece, é sentir-se pertencente. Está bem, mas e a delicadeza, onde está? Para muitas pessoas adultas, que não tiveram a alegria de aprender dessa forma, onde desde o primeiro dia de aula já as fizeram escrever direto no caderno de linhas, pode parecer que a aula não está acontecendo. Atualmente as escolas preparam muito bem as crianças, as quais geralmente já saem da educação infantil alfabetizadas, mas isso não quer dizer que seja uma regra. Tem aquelas que chegam sem saber escrever nada ainda e é preciso incentivar a todos para que se ajudem e aprendam. Cada ser humano tem um tempo, um ritmo e vai estabelecer as conexões de compreensão levando muito em consideração tudo o que acontece no seu entorno. Isto é, a  criança vai se autorizar a aprender dependendo da forma como for tratada tanto na família, quanto com os amigos, parentes, escola, etc. Tudo o que os pequenos escutam das outras pessoas, vai fazendo com que elabore um perfil de si, como os outros o percebem. Quantas crianças muitas vezes não se autorizam a escrever e nem a desenhar nada, porque lá um dia foi chamada de "burra", "bocó", "tudo que tu faz está errado", "olha só que porcaria", "não dá para entender nada", entre outros. O primeiro ano do ensino fundamental é o período onde a criança vai começar a produzir mais e ter a chance de mostrar para quem quiser o que produziu. Nesse momento é fundamental que as suas produções, mesmo com trocas ortográficas, sejam valorizadas. O inicio do processo acontece naturalmente com trocas ortográficas, onde geralmente as crianças tendem a registrar mais as vogais, pois são os sons mais familiares. Uma palavra pode ser "escrita" contendo apenas vogais, e cabe ao professor lhe mostrar o que está escrevendo, solicitando sempre a participação da criança, assim haverá pouco a pouco a compreensão do processo completo. Evitar comparações: como é que o filho do meu amigo, que é mais novo, já está lendo? Aí é que devemos ter um cuidado redobrado, os pequenos escutam e começam a sentir-se menos valorizados e incapazes. Lembrar sempre que cada indivíduo carrega sua história de vida, mas possui uma elaboração que acontece de forma diferente.

O papel do adulto de ser o grande incentivador e mostrar que acredita no potencial do sujeito aprendiz é imprescindível. Nem todo caderno "bonito" é sinônimo de criança que aprendeu. Já vi cadernos lindos que eram apenas copiados do quadro sem significado e outros nem tão lindos cujas crianças sabiam escrever e criar maravilhas. Letras ou números bonitos não significam aprendizagem, o que importa é como a criança interpreta o que está sendo trabalhado com ela. Existem crianças que vão mostrar que entenderam mesmo por volta de agosto, setembro, outubro. Outras conseguem faze-lo nos meses de março, abril, maio. É relativo. O tempo é de cada um e o grau de ansiedade que muitas vezes o adulto passa para a criança, faz com que ela se desenvolva ou se trave nesse processo que não é simples, mas que para o leigo parece óbvio. Nossas crianças merecem esse olhar cuidador e serem felizes estando na escola, independente do ano que estão.

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